Se você vai usar o hakama pela primeira vez, vai perceber que ele é assimétrico…
Ele é pregueado na parte da frente, mas, ao contrário do que se poderia esperar, a quantidade de pregas não é igualmente distribuída nos lados direito e esquerdo.
Isso remete a um conceito de estética/filosofia bastante japonês, “Wabi-Sabi”.
Quando se fala em estética, nós, no ocidente estamos acostumados a pensar principalmente a partir de um ponto de vista grego, geométrico, clássico e que foi revivido na Renascença.
No ocidente, um dos atributos que, consciente ou inconscientemente, consideramos como pré-requisito do belo é a simetria. Nosso conceito de perfeição está muito ligado ao conceito de simetria, de proporção, de permanência (regularidade no espaço e no tempo) e de completude.
Wabi-Sabi refere-se justamente à apreciação (e aceitação) das imperfeições, da impermanência e da incompletude. Significa aceitar a imperfeição, a assimetria, a irregularidade e a modéstia como atributos de beleza. Conseguir ver beleza nas coisas simples e singelas, que mais comovem do ofuscam.
Os caracteres para Wabi insinuam simplicidade, elegância, rusticidade e os caracteres para sabi significam a pátina, a beleza da idade, as estrias do desgaste, as rugas do tempo.
O conceito de beleza wabi-sabi remete a uma beleza “simplicidade tão simples”, tão singela que, por ser tão fundamental, emula a própria natureza.
Apreciar wabi-sabi em algo, significa enxergar a essência e não a aparência.
Numa primeira aproximação, em relação à forma, podemos dizer que o Aikidô, assim como qualquer Budô verdadeiro, deve ser mais simples e singelo do que espetacular.
As cinco dobras centrais do hakama, duas à direita e três à esquerda, assimetricamente dispostas, não referem-se apenas ao Aikidô.
Vale também para os outros aspectos da vida:
Primeira dobra: compaixão, gentileza, delicadeza;
Segunda dobra: justiça,intenção correta, um caminho ético, moral;
Terceira dobra: um código de comportamento, cortesia e boas maneiras, etiqueta;
Quarta dobra: sabedoria, dominar as situações;
Quinta dobra: fé, confiança, acreditar.
É necessário esmerar-se para praticar todos estes caminhos, se você não se esforça para isso, não deveria envergar orgulhosamente um hakama.
Não é uma acessório bonito, “fashion”. Nem um símbolo de status.
Significa estar aberto a contribuir e a oferecer-se. A ser exemplo. A ser criticado.
Se você não contribui para criar o espírito correto, não deveria vestir um hakama.
Se você respeita estes caminhos no seu dia-a-dia, então tem o direito de usar esta roupa simbólica. Cujo “peso” é uma lembrança do que se deve cultivar.
O ato de vestir o hakama, pela complexidade quando comparado a vestir uma roupa de ginástica, por exemplo, torna-se um pequeno ritual. Um pequeno tempo entre o momento em que se chega ao Dojô e o momento de pisar no tatame. Um momento para acalmar a mente e “entrar no clima”.
O Hakama representa valores simbólicos importantes, e é por isso que deveríamos tratá-lo com certa reverência. A reverência devida a algo que tem significado
Encontrar alguém que tem o direito/merecimento para usar um hakama é algo muito raro.
No nosso Aikidô, apenas os faixas-pretas usam hakama. Passa-se a usá-lo quando se chega ao primeiro dan, o grau de INICIANTE.
Se você usa um hakama, seja um iniciante a cada dia!
Anderson Gomes de Oliveira
Brasília, 29 de abril de 2016